quarta-feira, 4 de abril de 2012

Natural, normal, fórceps, cesárea...

Hoje estava pesquisando sobre partos e achei um estudo realizado por estudantes de enfermagem aqui da cidade no ano de 1994 sobre a quantidade de cesarianas nos 4 principais hospitais da cidade.  Lá pelo meio do estudo, em algumas tabelas aparecia a comparação da quantidade de cesárias e de partos.  Mas qual não foi minha surpresa quando vi escrito: partos naturais.  Naturais?  Percebi que nesse estudo, os envolvidos não souberam diferenciar parto natural de parto normal.  E você, sabe a diferença?

Cesárea: nascimento do bebê via cirurgia.  Apesar dos médicos brasileiros insistirem em chamar de parto cesárea, aqui no Brasil é um dos poucos lugares do mundo que cesárea é considerado parto.  Cesárea é cirurgia e ponto final.  Sem participação nenhuma da mãe.  Sem envolvimento ativo e hormonal nenhum da mãe.  A mãe deita após receber anestesia, lhe tampam a visão com um campo cirúrgico e o protagonista da história é o médico que abre a barriga da mãe, retira o bebê, fecha enquanto comenta sobre sua ultima viagem de férias, sobre sua esposa ou sobre o trânsito caótico...  Isso é cesárea.  Uma cirurgia que deveria ser feita somente quando absolutamente necessária.  Infelizmente muitos médicos enganam suas pacientes fazendo com que elas acreditem que precisavam de uma cesárea: cordão enrolado no pescoço, bebê grande de mais, mãe muito nova ou muito velha e mais um monte de mentiras absurdas.


Parto normal: vaginal.  Aqui no Brasil o parto normal é quase uma violência.  Em algumas instituições são quase tão violentos como uma cesárea.  Pernas amarradas, equipe gritando com a parturiente, soro na veia com hormônios que deixam as contrações insuportáveis.  Na hora do nascimento a barriga é empurrada e um corte é feito no períneo (episiotomia).  A maioria dos partos normais são uma violência com direito a mutilação dos órgãos sexuais da mulher.  A falta de preparo das equipes, a falta de respeito pela vida e a falta de conhecimento das gestantes fazem esse tipo de parto um show de horror que deixa marcas não só no corpo, mas na alma da mãe.  Não é atoa que a mulher que passa por um parto assim fica traumatizada e se tem oportunidade escolhe uma cesárea para ter o próximo filho.  Em algumas instituições esse parto normal é um pouco mais respeitoso, mas não livra a mulher de certos procedimentos que são "obrigatórios".  Soro com hormônios, posição única para parir (geralmente aquela posição de exame ginecológico), episiotomia...  O respeito entra através da equipe que não manda a mãe calar a boca e permite a presença de um acompanhante (presença essa permitida por lei em TODOS OS PARTOS E NASCIMENTOS - lei federal que nunca é cumprida).

Fórceps: ainda muito usado em hospitais públicos, principalmente naqueles com residência médica.  Esse fórceps é usado já no fim do período expulsivo (quando o bb está quase saindo).  Residentes o fazem para aprender a manusear e por pura curiosidade mesmo.  É feita uma episiotomia enorme e o fórceps é colocado no canal de parto e encaixado na cabeça do bebê, puxando ele para fora.  Violento, e desnecessário na maioria das vezes.  Já vi casos em que foi aplicada anestesia Raqui para fazer um fórceps.

Natural: parto vaginal onde o ritmo do corpo da mulher é totalmente respeitado.  Não há utilização de soro com hormônios.  Não há anestesia, não há episiotomia.  Existem algumas instituições que atendem parto natural, mas isso não significa que o atendimento é humanizado.  Hospitais com grande movimentação de partos fica difícil um atendimento individualizado e humanização necessita de atenção.  Mas geralmente partos naturais são parto humanizados.  Ocorrem em pouquíssimas instituições públicas,como por exemplo nas casas de parto.  Alguns hospitais públicos oferecem o parto humanizado, mas não é natural.  O parto deixa de ser natural quando há utilização de ocitocina, anestesia ou qualquer intervenção.  Mas ele pode continuar a ser humanizado mesmo com essas intervenções.  A humanização do parto é quando o atendimento é respeitoso.  Todas as intervenções são previamente a informadas e muitas vezes discutidas com a parturiente sobre a necessidade ou não de tal intervenção.  Não há ofensas, não há exigências, não há pressões.  há respeito tanto pela parturiente como pelo bebê que está chegando.  Infelizmente a combinação parto natural+humanizado existe muito pouco na rede pública.  Casas de parto oferecem esse atendimento gratuitamente para gestantes saudáveis, com gestação de baixo risco e sem cesárea prévia.  Mas ainda há um preconceito muito grande por ser SUS.  Quem paga convênio custa a acreditar que não terá nada além de uma cesárea de emergência agendada para a semana seguinte.  E geralmente quem paga convênio se recusa a passar por um atendimento no SUS.  Infelizmente.  Para ter um parto natural humanizado com convênio médico é impossível.  Parto natural é imprevisível em relação ao tempo e o médico do convênio não vai ficar disponível por 24 horas junto com a paciente para ganhar 300,00 pelo atendimento.  Aí ele vê que vai demorar, sugere a colocação de um sorinho e estão desencadeadas as intervenções que vão levar à um sofrimento fetal, pois tudo está indo rápido demais para o bebê, fora do ritmo dele.  Resultado: cesárea.

Acho que consegui explicar a diferença entre normal e natural, não é?  Infelizmente o parto normal não é nada normal, pois é cheio de intervenções.  Por isso eu digo sempre que se é o primeiro bebê, procure o melhor que você puder.  Esse melhor, você não vai encontrar pelo convênio médico.  Se a grana está curta, casas de parto são lindas e muito acolhedoras.  Nada de preconceitos...  Tem gente que gasta 2 mil reais em um carrinho de bebê, 5 mil em um quartinho lindo e se deixa ser mutilada, cortada, aberta e deixa de participar do melhor e mais grandioso momento da sua vida.  Hora de repensar seus valores.  Afinal, qual serão os valores que você vai ensinar  para seus filhos?  O que é mais valioso: bens materiais ou momentos únicos da vida?