Hoje estava pesquisando sobre partos e achei um estudo realizado por estudantes de enfermagem aqui da cidade no ano de 1994 sobre a quantidade de cesarianas nos 4 principais hospitais da cidade. Lá pelo meio do estudo, em algumas tabelas aparecia a comparação da quantidade de cesárias e de partos. Mas qual não foi minha surpresa quando vi escrito: partos naturais. Naturais? Percebi que nesse estudo, os envolvidos não souberam diferenciar parto natural de parto normal. E você, sabe a diferença?
Cesárea: nascimento do bebê via cirurgia. Apesar dos médicos brasileiros insistirem em chamar de parto cesárea, aqui no Brasil é um dos poucos lugares do mundo que cesárea é considerado parto. Cesárea é cirurgia e ponto final. Sem participação nenhuma da mãe. Sem envolvimento ativo e hormonal nenhum da mãe. A mãe deita após receber anestesia, lhe tampam a visão com um campo cirúrgico e o protagonista da história é o médico que abre a barriga da mãe, retira o bebê, fecha enquanto comenta sobre sua ultima viagem de férias, sobre sua esposa ou sobre o trânsito caótico... Isso é cesárea. Uma cirurgia que deveria ser feita somente quando absolutamente necessária. Infelizmente muitos médicos enganam suas pacientes fazendo com que elas acreditem que precisavam de uma cesárea: cordão enrolado no pescoço, bebê grande de mais, mãe muito nova ou muito velha e mais um monte de mentiras absurdas.
Parto normal: vaginal. Aqui no Brasil o parto normal é quase uma violência. Em algumas instituições são quase tão violentos como uma cesárea. Pernas amarradas, equipe gritando com a parturiente, soro na veia com hormônios que deixam as contrações insuportáveis. Na hora do nascimento a barriga é empurrada e um corte é feito no períneo (episiotomia). A maioria dos partos normais são uma violência com direito a mutilação dos órgãos sexuais da mulher. A falta de preparo das equipes, a falta de respeito pela vida e a falta de conhecimento das gestantes fazem esse tipo de parto um show de horror que deixa marcas não só no corpo, mas na alma da mãe. Não é atoa que a mulher que passa por um parto assim fica traumatizada e se tem oportunidade escolhe uma cesárea para ter o próximo filho. Em algumas instituições esse parto normal é um pouco mais respeitoso, mas não livra a mulher de certos procedimentos que são "obrigatórios". Soro com hormônios, posição única para parir (geralmente aquela posição de exame ginecológico), episiotomia... O respeito entra através da equipe que não manda a mãe calar a boca e permite a presença de um acompanhante (presença essa permitida por lei em TODOS OS PARTOS E NASCIMENTOS - lei federal que nunca é cumprida).
Fórceps: ainda muito usado em hospitais públicos, principalmente naqueles com residência médica. Esse fórceps é usado já no fim do período expulsivo (quando o bb está quase saindo). Residentes o fazem para aprender a manusear e por pura curiosidade mesmo. É feita uma episiotomia enorme e o fórceps é colocado no canal de parto e encaixado na cabeça do bebê, puxando ele para fora. Violento, e desnecessário na maioria das vezes. Já vi casos em que foi aplicada anestesia Raqui para fazer um fórceps.
Natural: parto vaginal onde o ritmo do corpo da mulher é totalmente respeitado. Não há utilização de soro com hormônios. Não há anestesia, não há episiotomia. Existem algumas instituições que atendem parto natural, mas isso não significa que o atendimento é humanizado. Hospitais com grande movimentação de partos fica difícil um atendimento individualizado e humanização necessita de atenção. Mas geralmente partos naturais são parto humanizados. Ocorrem em pouquíssimas instituições públicas,como por exemplo nas casas de parto. Alguns hospitais públicos oferecem o parto humanizado, mas não é natural. O parto deixa de ser natural quando há utilização de ocitocina, anestesia ou qualquer intervenção. Mas ele pode continuar a ser humanizado mesmo com essas intervenções. A humanização do parto é quando o atendimento é respeitoso. Todas as intervenções são previamente a informadas e muitas vezes discutidas com a parturiente sobre a necessidade ou não de tal intervenção. Não há ofensas, não há exigências, não há pressões. há respeito tanto pela parturiente como pelo bebê que está chegando. Infelizmente a combinação parto natural+humanizado existe muito pouco na rede pública. Casas de parto oferecem esse atendimento gratuitamente para gestantes saudáveis, com gestação de baixo risco e sem cesárea prévia. Mas ainda há um preconceito muito grande por ser SUS. Quem paga convênio custa a acreditar que não terá nada além de uma cesárea de emergência agendada para a semana seguinte. E geralmente quem paga convênio se recusa a passar por um atendimento no SUS. Infelizmente. Para ter um parto natural humanizado com convênio médico é impossível. Parto natural é imprevisível em relação ao tempo e o médico do convênio não vai ficar disponível por 24 horas junto com a paciente para ganhar 300,00 pelo atendimento. Aí ele vê que vai demorar, sugere a colocação de um sorinho e estão desencadeadas as intervenções que vão levar à um sofrimento fetal, pois tudo está indo rápido demais para o bebê, fora do ritmo dele. Resultado: cesárea.
Acho que consegui explicar a diferença entre normal e natural, não é? Infelizmente o parto normal não é nada normal, pois é cheio de intervenções. Por isso eu digo sempre que se é o primeiro bebê, procure o melhor que você puder. Esse melhor, você não vai encontrar pelo convênio médico. Se a grana está curta, casas de parto são lindas e muito acolhedoras. Nada de preconceitos... Tem gente que gasta 2 mil reais em um carrinho de bebê, 5 mil em um quartinho lindo e se deixa ser mutilada, cortada, aberta e deixa de participar do melhor e mais grandioso momento da sua vida. Hora de repensar seus valores. Afinal, qual serão os valores que você vai ensinar para seus filhos? O que é mais valioso: bens materiais ou momentos únicos da vida?
quarta-feira, 4 de abril de 2012
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