Porém vira e mexe aparece alguém com as perguntas "Qual o risco?", "Estatisticamente, quais as chances de uma ruptura?". Eu sempre tento mostrar que são estudos "viciados", que são estudos feitos em partos normais com todas as intervenções possíveis e imagináveis e que não adianta olhar por esse lado, pois a vida não é matemática!
Ontem na lista Parto Nosso me deparo com um email que mostra claramente que tudo depende do ponto de vista. tudo depende de quem o estudo quer atingir e para quem essas porcentagens irão ser mostradas. É voltada para uma mãe que quer parir? É voltada para uma mãezinha preocupada? É voltada para o doutor?
Esse email foi escrito pela Raquel Olmedo Rodrigues. A observação é dela. Os grifos são meus. A reflexão é para gente! Vamos pensar antes de qualquer coisa!
" escrevi no outro email sobre porque não fazer US de rotina, contei a história da minha irmã que teve que fazer uma amniocentese e acabou com bolsa rota às 25 semanas, minha sobrinha que nasceu prematura e teve complicações.
Agora fiquei curiosa pra ver o que falam da
amniocentese na internet. A maioria dos sites que achei dizem mais ou menos
assim:
"A amniocentese tem um risco muito baixo, de 0,5% a 1% de ter bolsa rota, infecção ou perder o bebê." (Ressalva: como no caso da minha irmã, nem todos os casos devem ser reportados como sendo causados pela amniocentese, então imagino que seja mais)
Agora, quando a gente quer saber sobre VBAC e rotura uterina, acha o que?
"O risco de uma ruptura uterina em um parto normal após a cesária é altíssimo, em torno de 0,6%."
E aí? Por que é que pra fazer um exame (muitas vezes desnecessário ou, pelo menos, realizado prematuramente), 0,5% a 1% de chance de perder o bebê está "ok", o risco é baixo? Sendo que são realizados cedo na gestação e, se houver uma infecção, bolsa rota nessa época é muito difícil de manter a gestação.
E por que na hora de uma mãe que passou por cesária escolher ter um PN (que tem muitos benefícios pra o bebê em relação a uma cesária agendada), 0,6% é um risco altíssimo? Sendo que, mesmo em casos de rotura uterina, na grande maioria dos casos se salva mãe e bebê, e a mortalidade é super baixa. O bebê já está grande o suficiente para viver fora do útero e a mãe, em boa parte das vezes consegue preservar o útero. É claro que não desejo uma rotura uterina para ninguém, que seu manejo é difícil, que precisa ter um profissional experiente e agir rápido para que dê tudo certo. Não estou questionando isso, nem dizendo que "rotura uterina tudo bem, que mal tem?", não é essa minha intenção.
A minha intenção aqui é trazer esse assunto pra pensarmos: por que a mesma "taxa de risco" é considerada baixa na amniocentese (onde, quando há problemas, é mais difícil salvar) e altíssima no VBAC (onde mesmo na rotura uterina pode-se salvar mãe e bebê)?
Quem interpreta os dados dessa maneira? A quem eles servem? Por que amniocentese, que traz lucro às clínicas, tudo bem fazer, enquanto VBAC, que, como qualquer PN é demorado, trabalhoso, toma horas do médico, da equipe, do leito do hospital, é "arriscadíssimo" segundo a maioria dos médicos?
Amniocentese e VBAC são só alguns exemplos. Em
muitos outros casos os riscos são interpretados para o bem ou para o mal. É por
isso que eu digo, exames, TP e sua duração, dilatação e qualquer outra coisa
podem ser manipulados para servir aos interesses de quem os interpreta. Temos
que confiar mais em nós e no nosso corpo, pensar mais antes de entregar a
responsabilidade absoluta da nossa vida e de nossos filhos na mão de um médico
(ou qualquer outra pessoa). Temos que ter muto cuidado com os profissionais que
escolhemos pra nos acompanhar.""A amniocentese tem um risco muito baixo, de 0,5% a 1% de ter bolsa rota, infecção ou perder o bebê." (Ressalva: como no caso da minha irmã, nem todos os casos devem ser reportados como sendo causados pela amniocentese, então imagino que seja mais)
Agora, quando a gente quer saber sobre VBAC e rotura uterina, acha o que?
"O risco de uma ruptura uterina em um parto normal após a cesária é altíssimo, em torno de 0,6%."
E aí? Por que é que pra fazer um exame (muitas vezes desnecessário ou, pelo menos, realizado prematuramente), 0,5% a 1% de chance de perder o bebê está "ok", o risco é baixo? Sendo que são realizados cedo na gestação e, se houver uma infecção, bolsa rota nessa época é muito difícil de manter a gestação.
E por que na hora de uma mãe que passou por cesária escolher ter um PN (que tem muitos benefícios pra o bebê em relação a uma cesária agendada), 0,6% é um risco altíssimo? Sendo que, mesmo em casos de rotura uterina, na grande maioria dos casos se salva mãe e bebê, e a mortalidade é super baixa. O bebê já está grande o suficiente para viver fora do útero e a mãe, em boa parte das vezes consegue preservar o útero. É claro que não desejo uma rotura uterina para ninguém, que seu manejo é difícil, que precisa ter um profissional experiente e agir rápido para que dê tudo certo. Não estou questionando isso, nem dizendo que "rotura uterina tudo bem, que mal tem?", não é essa minha intenção.
A minha intenção aqui é trazer esse assunto pra pensarmos: por que a mesma "taxa de risco" é considerada baixa na amniocentese (onde, quando há problemas, é mais difícil salvar) e altíssima no VBAC (onde mesmo na rotura uterina pode-se salvar mãe e bebê)?
Quem interpreta os dados dessa maneira? A quem eles servem? Por que amniocentese, que traz lucro às clínicas, tudo bem fazer, enquanto VBAC, que, como qualquer PN é demorado, trabalhoso, toma horas do médico, da equipe, do leito do hospital, é "arriscadíssimo" segundo a maioria dos médicos?
Parabéns pela excelente reflexão, Raquel! Eu realmente nunca tinha parado para pensar nisso, mas achei demais essa colocação!
Espero que ajude a abrir os olhos de muitas pessoas e que as pessoas passem a confiar mais em si mesmas ao invés de estatísticas e números!